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Termina o Ano da Misericórdia – Artigo

Termina o Ano da Misericórdia  

No próximo domingo se concluirá, com o ano litúrgico, também o Ano santo da misericórdia. Conforme determinado pelo próprio Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, nas Dioceses o Jubileu da misericórdia se encerra hoje. Fecham-se, portanto, hoje as simbólicas “portas da misericórdia”, designadas em todas as catedrais, santuários, ou outras igrejas escolhidas pelos bispos. Também terminam as celebrações especiais relacionadas ao acontecimento;  conclui-se um ano em cujo centro da atenção dos católicos foi posto o tema do Amor infinito de Deus pelo ser humano, que cada um é chamado a imitar em relação aos próprios semelhantes.

Conclui-se o Ano santo, mas certamente não se esgota o seu tema central. Como Deus continuará a mostrar aos seus filhos a sua misericórdia, assim os filhos de Deus são exortados a mostrá-lo concretamente aos seus irmãos. “A misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo”, falou o Papa Francisco; “se faz tão necessária a misericórdia, e é importante que os cristãos a vivam e a levem aos diferentes ambientes sociais”. Todos somos chamados a manifestar misericórdia ao próximo: com as possíveis e diversas obras de bem, com a sábia paciência do perdão, com o empenho pessoal e comunitário em prol da justiça e da paz.

Deixemo-nos iluminar pelas leituras de hoje, em especial o Evangelho (Lc 21,5-19) que é constituído de um discurso de Jesus que preanuncia eventos futuros. Eventos que pontualmente se verificaram: a destruição do grande templo de Jerusalém, do qual “não ficará pedra sobre pedra; o surgimento de falsos messias; guerras entre os povos, terríveis catástrofes naturais, sem falar na perseguição aos seguidores de Jesus”. Esta ultima está ainda em pleno ato, e tudo indica que haverá também no futuro; então vale a pena sublinhar o quanto diz o divino Mestre: “será ocasião de dar testemunho (…) e com a vossa perseverança salvareis a vossa vida”.

Merece também igual destaque uma frase contida da segunda leitura (2Ts 3,7-12): “Quem não quer trabalhar, não deve comer”. “Ouço falar que alguns entre vós vivem uma vida desordenada, sem fazer nada e sempre em agitação”.

A expressão pode parecer uma provocação, em tempos em que muitos não trabalham, e não por opção! O desemprego é o mais grave dos males que atingem o Brasil (e muitos países do mundo). O Papa Francisco repetiu várias vezes que sem trabalho não há dignidade; e sem trabalho, sobretudo para os jovens, a sociedade não tem futuro. Como um jovem desempregado, sem  perspectivas confiáveis,  pode programar uma vida normal, formar uma família, ter interesse pelas grandes causas? Sem considerar que a falta de um trabalho pode induzir a comportamentos negativos (o ócio é o pai dos vícios).

O trabalho, continuou o Papa, deve ser digno, “porque, infelizmente, especialmente quando há crise e a necessidade é grande, aumenta o trabalho desumano, o trabalho escravo, o trabalho sem a justa segurança legal, sem o respeito à criação, sem o respeito ao repouso, à festa e à família”. E, com muita lucidez, o Papa também apontou as causas do desemprego no mundo: “o sistema econômico, centrado sobre um ídolo que se chama dinheiro”, e sugeriu caminhos de solução: “tirar a centralidade da lei do lucro e da renda para recolocar ao centro a pessoa humana e o bem comum”. O compromisso com a vida é uma questão urgente que obriga a todos: isto também é misericórdia.

 

Pe. Antonio Eronildo  de Oliveira

 Vigário Geral Diocese de Quixadá