A NECESSIDADE DE UM CULTO EUCARÍSTICO INTERIOR
A Igreja sempre celebrou Corpus Christi com grande festividade. Tapetes coloridos, pálios, tochas, incenso, música. Corpus Christi manifesta, de forma barroca, carregada de cores e de símbolos, o caráter público da fé da Igreja na presença real de Cristo sob o véu do sacramento. A Solenidade em questão exibe o mistério, adorna o oculto, multiplica sinais para ser ela mesma seja sinal esplendoroso da discrição de uma Presença divina única.
Mas este tempo de pandemia não nos permite grandes manifestações externas de fé. Por isso, é preciso voltar à compreensão de que Cristo habita em nós. O próprio Bento XVI dizia que a Eucaristia “é um convite a deixar-nos impregnar e encher pelo Espírito de Cristo e, desse modo, a erigir os sacrários de Deus ali onde verdadeiramente são necessários: no meio do mundo em que vivemos, no meio dos homens que nos rodeiam”.
Nós somos ostensórios onde estamos. Nós somos o Corpo de Cristo, a Igreja, onde vivemos. Precisamos irradiar o brilho dourado da Eucaristia nos cômodos de nossas casas, para depois levá-lo a um mundo adoecido e entristecido.
Não estamos cobertos com capas pluviais, mas com máscaras. Sob elas deve estar uma boca sedenta e faminta do cálice da salvação e do pão da vida. Fome e sede eucarísticas devem ser a marca de um Corpus Christi doméstico em 2020. Assim estaremos mais preparados para voltar a expandir a nossa fé involuntariamente recolhida nestes dias. É hora, então, de um culto privado e interior mais intenso à espera do culto público.
Rudy Albino de Assunção
Fonte: Jornal UNICATÓLICA, n. 96, junho de 2002, p. 4.
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