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Terceiro Domingo de Páscoa

A saga dos discípulos de Emaús nos remete ao percurso da vida cristã iluminada por um Senhor e Salvador presente, caminheiro com seus discípulos. Nos dois peregrinos a decepção é a marca registrada de um fracasso anunciado e realizado. Será? Sim. Foi um fracasso, mas até o quanto a vista humana consegue enxergar. O olhar do coração iluminado vai perceber a Vitória na cruz. O antigo inimigo que é a morte homicida foi vencida. Mas, quem disse que os dois veriam as coisas com essa clareza? Boatos de ressurreição corriam soltos: mulheres que falam demais, discípulos com narrações desencontradas… mas, e Ele? Ninguém o viu, foi o que disseram os dois viajantes que davam as costas para Jerusalém, palco dos grandes eventos de salvação e se dirigiam para um povoado que símbolo dos pequenos projetos pessoais. E no meio do caminho, do nada, o Tudo apareceu. Era Ele! Caminha com os desanimados e os escuta e os faz falar. Deixa que desabafem. O trauma da paixão de Cristo e as expectativas de um Messias político, triunfalista parece ter criado a tempestade perfeita. Ele era poderoso em gestos, eloquente em palavras. Mas simplesmente morreu ou foi morto: o que é ainda pior.
tomando a palavra, Aquele que é a Palavra eterna do Pai começa a expor tudo quanto diz respeito a Si na lei de Moisés e nos profetas. Mas, seu falar é diferente pois traz consigo a unção, o calor do amor cheio de poder para cativar e cultivar o potencial interior mais profundo para acolher o dom da fé. Ainda hoje, é preciso que nos deixemos trabalhar pela Palavra que é Cristo falando de Si, comunicando vida plena que brota d’Ele mesmo. Aqueles que tinham o coração duro e a inteligência da fé obscurecida passaram a visualizar com os olhos do coração uma aurora que despontava. A paz e a alegria substituíram a inquietação e a tristeza. O estranho companheiro de viagem deu a entender que ia seguir viagem. Estranho! Já era noite com densa escuridão. Como seguir adiante naquelas condições? Pediram que Ele permanecesse e ceiasse. À mesa, o divino comensal repete o gesto eucarístico de partir o pão. Os olhos dos dois se abrem e o Ressuscitado desaparece. No melhor da festa? Como se explica? A visão não era necessária. Havia muita luz naqueles corações aquecidos pelo anúncio da palavra que alimenta e sustenta. Voltaram para Jerusalém, voltaram para o plano de Deus que se realiza na comunidade dos que creem. A escuridão exterior deixou de ser um risco. A luz que brilhava dentro lhes permitiu ver o caminho. Essa é a nossa história feita de tantos retornos a Jerusalém.

Por:
Padre Marcos Chagas
Vigário paroquial da paróquia Santa Teresinha, Quixadá.