O Evangelho desse domingo nos faz pensar largo. Primeiro, não sei se convém ao caso, fazer uma pergunta fundamental. Quem hoje nos convence da urgência de crer e viver o Evangelho de Jesus Cristo? Alguns anos atrás, quando os meios de comunicação se popularizaram, padre Zezinho profetizou poetizando: “Hoje a televisão, o radio e os jornais convencem mais cabeças do que o padre no altar”.
Dando quase por certo que os padres que pregam o Evangelho no altar e em muitas outras frentes missionárias onde a Igreja se faz presente (escolas, hospitais, abrigos de idosos, universidades, meios de comunicação e outros), tenham perdido a causa para a concorrência, então os fatos que a mídia noticia todos os dias ainda têm força de convencimento?
Serve algum exemplo? Dizem que o Papa Francisco, que saiu do fim do mundo, não para de surpreender. Mas que surpresa há quando o Papa se importa, fala, reza e age sobre os grande problemas da humanidade? Calamidades naturais, conflito no Oriente Médio, atentados terrorísticos em toda parte, o problema da imigração e dos refugiados? Pode até ser surpreendente só pelo fato de alguém, no caso o papa, notar o que a pós moderna cultura da indiferença prefere ignorar.
Um dos primeiros dentre os tantos gestos de proximidade do Papa Francisco foi a visita à ilha de Lampeduza, na Italia, onde quase diariamente desembarcam centenas de prófugos a procura de viver. Infelizmente nem todos conseguem desembarcar, porque a maior parte naufraga. O Papa foi lá. Não levou nada, a não ser a compaixão de Cristo e da Igreja pelos homens e mulheres caídos. A televisão mostra isso todos os dias, mas não convence.
Estes dias a televisão tem noticiado à exaustão a decisão tomada pelo Reino Unido de sair da União Europeia. O principal motivo é o medo que os imigrantes invadindo a Europa cheguem também nas casas, praças, calçadas dos ingleses e assim o reino de sua majestade não seja mais tão perfeito. A televisão continua noticiando, mas não convence.
A parábola do bom samaritano quer demonstrar que só o amor que se torna compaixão pode vencer esta barreira da indiferença que tende a se tornar cada dia mais forte. Um doutor da lei não passa de um analfabeto em matéria de amor. Mesmo teoricamente correto sobre a moral dos mandamentos, ele não enxerga o terreno da história onde por em prática a sua fé letrada. A sua fé até sabe, mas não tem sabor.
Então à pergunta sobre quem é e onde está o próximo, Jesus oferece a história concreta de pessoas concretas, homens e mulheres caídas à margem do caminho.
O desafio agora não é mais identificar o próximo. Dos moribundos nos hospitais aos sacrificados nas cadeias (jaulas) tri-lotadas, até os mortos das balas perdidas, tem próximo pra todo lado. O desafio é se tornar próximo, é aproximar-se, tocar, prestar socorro, conduzir e pagar a conta daqueles que “a gente quando vê passa adiante, porque as vezes tem pressa de chegar na Igreja”. O desafio é se deixar convencer por Jesus e por sua Igreja samaritana que o próximo sou eu.
Pe. Antonio Eronildo de Oliveira
Vigário Geral Diocese de Quixadá