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Solenidade de Pentecostes

O Dom do Pentecoste: A Igreja, a missão e a obra nova
Seguindo o evangelista Lucas no livro do Atos do Apóstolos, a liturgia que celebramos hoje direciona o nosso olhar para o grande evento acontecido na festa das primeiras colheitas. Ele propõe este acontecimento na chamada festa das semanas, a conclusão das sete semanas depois da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, o quinquagésimo dia (em grego pentekostes). Anteriormente, essa festa era ocasionada pela oferta das primeiras espigas e, mais tarde, foi unida à recordação da aliança no Sinai. E na Tradição Bíblica, a este dia de Pentecostes, fazemos solene referência à descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos reunidos (At 2,1). Com narração da primeira leitura da liturgia deste domingo nos é apresentado símbolos que figuram de modo direto e claro o Espírito Santo: primeiro, o vento (Espírito em grego é a mesma palavra que vento), e depois, as línguas de fogo, uma metáfora visual (Is 5,24) que adquire valor simbólico, pois o seu dom visa à proclamação do Evangelho e se manifestará em linguagem.
Um questionamento sempre existiu no seio da Igreja a respeito da terceira pessoa da Santíssima Trindade. Mesmo com os primeiros Concílios onde se debateu sobre o Espírito Santo e algumas heresias que surgiram no contexto da época, ao longo da História da Igreja, pouco se produziu sobre o Paráclito. Atualmente, esse discurso vem mudando, pois podemos encontrar uma série de teólogos que produzem o que podemos chamar de teologia do Espírito Santo, ou em uma linguagem mais técnica, pneumatologia, via que nos ajuda a responder algumas perguntas: Quem é o Espírito Santo? O que nos ensina a Igreja sobre a terceira Pessoa da Santíssima Trindade?
O Catecismo da Igreja Católica no artigo sobre o Espírito Santo recordando a a Primeira Carta de São Paulo ao Coríntios (2,11)  ensina que, só podemos conhecer o que é de Deus pelo seu Espírito. Ele, não se revelando em si mesmo, nos revela o Cristo, o Verbo encarnado do Pai, sua Palavra viva. Só o conhecemos no momento em que revela o Cristo . Nessa mesma linha, Hans Urs Von Balthasar quando fala acerca da sua compreensão sobre o Espírito Santo, afirma que o Espírito Santo é fundamentalmente o Espírito explicador da Verdade do Pai – o Filho encarnado . O Espírito Santo explica o que o Pai comunica. Quando Cristo fala ao homem, é a comunicação do Pai com a humanidade: “As palavras que vos digo, não as digo por minha conta; o Pai que está em mim realiza suas próprias obras” (Jo 14, 10).
Outro teólogo do século XIX, o padre jesuíta Maurício Meschler, na obra intitulada O Dom do Petencostes , de forma simples e objetiva afirma: “O Espírito Santo é Deus; eis o nome e sua natureza”, e acrescenta:
“Instruídos pela Sagrada Escritura e pela Tradição, acreditamos num Ser Supremo, eterno, puramente espiritual, divino e infinito; nessa essência una e divina, distinguimos três Pessoas, cada uma possuidora e portadora da mesma natureza divina, todas três distintas entre si e não obstante absolutamente iguais na unidade de um mesma essência e de um mesmo poder, como muito bem o diz o Símbolo de S. Atanásio: ‘Adoramos um só Deus na Trindade e a Trindade da Unidade, sem confundir as Pessoas, nem dividir a substância’. Com o Pai e o Filho, uma destas três Pessoas é o Espirito Santo”.
A Sagrada Escritura demonstra os mesmos atributos da divindade ao Espírito Santo. A origem no Pai, portanto, a mesma essência (Jo 15,2); sonda as profundezas da divindade (1Cor 2,10); é o Espírito de verdade, conhece o futuro e anuncia-o (Jo 16,13), possui a ciência divina, é a Verdade infalível e a Verdade absoluta .
Ainda na Tradição Bíblica, pode nos ajudar nessa compreensão o relato da criação. Foi pelo sopro Deus que o pó transformou-se em matéria animada, dando vida ao homem. Para o mesmo autor, a pessoa humana é uma criação material, bela, grande e magnífica e simplesmente morada de um ser que habita e para qual foi criada. Para o homem, Deus criou e ordenou todas as coisas pelo Espírito Santo . Como coroamento de toda criação, Deus criou o homem e pelo Espírito Santo ganhamos vida, é o que nos ensina Jó (27,4) o Espírito de Deus criou-me e o sopro do Onipontente deu-me a Vida. Podemos verificar essa afirmação no relato da criação, quando se assinala a intervenção de Deus e se afirma que depois de haver formado o homem do pó da terra, soprou em seu rosto o espírito de vida (Gn 2,7) e fez daquele corpo, um ser animado. Somente Aquele que criou o homem é capaz de preenchê-lo. Se fomos feitos pelo Amor, a realização da nossa vocação está no amor, e esse amor sempre deve direcionar o homem em “ser para o outro” e “nunca no ser para si”, ao contrário, o homem nunca se realizará como pessoa quando voltado a si mesmo. Portanto, sendo criado pelo Amor e para o Amor, a pessoa só descansará no Amor. E ao suplicar no canto do Veni Creator: “Enchei com a graça do alto os corações que criastes” o Espírito Santo preencherá o coração do homem, pois ele mesmo, é o amor do Pai e do Filho, aquele que é capaz de cumular a pessoa com os dons celestiais.
Dando outro passo nessa meditação não podemos esquecer o protagonismo do Espírito Santo na missão da Igreja. É aqui também onde encontramos o sentido da nossa vida e o sentido do nosso “ser para o outro”. Na Sagrada Escritura podemos verificar o protagonismo do Espírito Santo já “existente na missão messiânica de Jesus, no seu mitério pascal e obra salvífica, radicada no sacrifício da Cruz”. Toda essa obra não foi encerrada em um dado histórico, mas se perpetua até nós atravês do tempo e confiada aos homens atravês do Apóstolos e da Igreja. “No entanto, nestes homens e por meio deles, o Espírito Santo permance sujeito protagonista transcedente da realização dessa obra no espírito do homem e na histótia do mundo” . Como cristãos pelo batismo, incorporados ao corpo místico de Cristo, isto é, a Igreja, somos chamados a essa mesma missão de evangelizar os homens do nosso tempo. O IDE de Jesus, deixado antes de sua Ascensão aos céus, como escutamos no domingo anterior, mas com a promessa do Espírito Santo, ele também nos envia hoje, o Pentecoste continua a acontecer na Igreja para que a Boa Nova seja também conhecida no contexto que estamos inseridos para a salvação dos filhos de Deus.
No Evangelho que é proclamado neste domingo de Pentecostes, escutamos a saudação da paz quando Jesus aparece aos discípulos. Jesus coloca-se no meio deles e saudo-os com a paz, paz que brota do seu lado aberto, de suas chagas, agora gloriosas. E assim, como aos discípulos, o Cristo Ressuscitado nos envia como anunciadores da paz, somos chamados a dar de graça o que de graça recebemos. Nós cristãos fazendo expêriência de Deus, de sua paz, do seu amor e da sua misericórdia devemos deixar transbordar nos outros essa experiência, e com nosso testemunhando, sendo enviados do Cristo pelo Espírito Santo e pela Igreja, devemos ser no mundo os anunciadores daquilo que os homens mais desejam, a paz do ressuscitado.
Nesse caminho precisamos viver do Espírito Santo: Não podemos Evangelizar se não for na comunhão como o Paráclito. É somente no Espírito Santo que podemos sair de nós mesmos, e somente com Ele, anunciar Cristo crucificado e ressuscitado, escândalo para o mundo, mas para aqueles que são chamados (nós cristãos) é sabedoria de Deus. Meus irmãos, deixemo-nos envolver por essa loucura de amor que nos dar vida nova. O novo que Deus quer realizar brota do lado aberto de Cristo. É essa, a Obra nova que o Espírito Santo quer realizar em cada coração, em nosso coração. Deixemos ser tocados por Deus, deixemos o Espírito Santo se manifestar em nós, deixemos ele nos guiar, e realizar em nós a obra do Pai. O Espírito de Deus propõe um novo caminho: Este caminho é do amor, da esperança e da fé. Segundo Lambiasi  (1987), é nas virtudes teologais que a conduta do cristão tem sua âncora, e recordando a Lumem Gentium, propõe Nossa Senhora, a esposa do Espírito Santo, como exemplo e presença de santidade na Igreja, na “imitação da Mãe do seu Senhor, com a virtude do Espírito Santo, conserva virginalmente íntegra a fé, sólida esperança e sincera caridade”. Imitando a Maria, nesse novo caminho o Senhor nos chama a FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE.
A primeira vocação do cristão é a santidade. Pelo nosso batismo, somos chamados à vida bem aventurada. Deus nos chama a felicidade, isto é, a SANTIDADE. Mas uma vez, a vida do cristão não pode ser isenta da presença do Espírito Santo, pois, este mesmo, foi nos dado no dia do nosso batismo, e como criatura novas, ressurgidos no banho batismal e renascidos como homens novos, recebemos o paráclito, por ele, somos novas criaturas. E Deus deseja, continua a rearfirmar isso hoje, quer renovar a nossa vida, renovar o nosso coração pelo seu Espírito.
Utilizemos mais uma vez do relato da criação onde Deus, depois de ter feito o homem, soprou sobre ele o hálito da vida, isto é, o nefesh ou Ruah. Ruah  do grego podemos traduzir como sopro ou atmósfera. E na mesma tradução em Gn 6,3 o Espírito é identificado  com o sopro (Ruáh) de Deus. Sem Espírito o homem morre: devemos entender isso não só no sentido vital e material do nosso corpo. Essa morte ocasionada pela ausência do Espírito Santo de Deus, diz respeito também ao nosso apostolado: O nosso apostolado, a nossa evangelização precisa ter presente o Espírito Santo, precisa ser na força do Espírito de Deus, pois ao contrário, nosso trabalho deixa de ser apostólico, para ser meramente profissionalismo de um serviço qualquer. Por encarnar atravês dos Sacramentos e tornar sensível o Espírito Santo, a Igreja é instrumento de Salvação, como ensina a Lumem Gentium. Todo nosso apostolado precisa ser permeado do Espírito evangélico, pois, ao contrário, estaria fugindo de sua missão, pois sabemos que toda atividade apostólica deve ter como objetivo primeiro, o anúncio do Evangelho.
A lei mata, mas o Espírito vivifica: o vivificar do Espírito nos coloca em condições de apostolado, isto é, de missão, Lhe é próprio a dinâmica missionária da Igreja, e consequentemente a nossa vida. O Papa Francisco nos recorda da Evangeli Gaudium, que nossa vida é missão nessa terra. Sim, nós somos missão nessa terra, como cristão, somos chamados à dinâmica do Petencostes, é próprio do Espírito uma vida missionária, foi essa, a vida gerada em Petencostes, depois da descida do Espírito Santo. Os Apóstolos saíram em missão, a evangelizar na parresia formando novas comunidades, encorajados a perder a própria vida por causa do Evangelho.
Meus irmãos, não tenhamos medo de empregar a nossa vida em uma causa que valha a pena, Dom Henrique Soares em vida nos alertava sobre isso, assim ele dizia: Que no meu último suspiro eu possa dizer, empreguei a minha vida em uma causa que valeu a pena. E influenciado por Dom Henrique vos encorajo a essa saída de si, impulsionados pelo Espírito Santo de Deus a empregar a vida de vocês em uma verdadeira vida de cristão, não sejamos aqueles que ficam em cima do muro, indecisos, mas sejamos cristãos autênticos que assumiram a obra nova realizada pelo Espírito Santo não só no batismo, mas em todos os dias em que essa vida se renova. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Por:
Daniel Barreto de Oliveira
Seminarista da Diocese de Quixadá – 4º ano de teologia