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Solenidade da Ascensão do Senhor

«Deus reina sobre todas as nações, está sentado no seu trono glorioso»
(Sl 46,9)

Transcorridos quarenta dias desde a Páscoa, celebramos hoje a subida gloriosa do Ressuscitado ao Céu. Voltou ao Pai, donde veio, revestido de poder, glória e majestade porque foi obediente até a morte, e morte de cruz. Após entregar nas mãos do Pai toda a obra de salvação que havia realizado, sentou-se à sua direita e foi glorificado acima de tudo (cf. Ef 1,20-23).

Apesar de já não estar mais fisicamente com os seus discípulos, o Ressuscitado garante sua constante presença junto deles, pois o anúncio do evangelho não pode parar! A missão de Jesus deve continuar através do árduo trabalho dos discípulos, que para isso gozarão de uma especial assistência do Espírito Santo (cf. Jo 16,12-14).

A primeira leitura da Missa, dos Atos dos Apóstolos, destaca esse evento da Ascensão como momento culminante da missão terrena de Jesus, e é por isso que se pode cantar com o salmista, a uma só voz: «por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta» (Sl 46,6). Agora, de junto do Pai, Ele pode mandar o seu Espírito, o outro Paráclito, como dom pascal por excelência, para acompanhar e conduzir os discípulos nas estradas deste mundo. Essa é a razão da nossa alegria: não estamos sós, não ficamos órfãos, pois o Espírito de Deus nos foi dado abundantemente!

A subida de Jesus aos céus joga luz sobre duas realidades fundamentais da nossa existência cristã: uma antropológico-escatológica e outra eclesial-missionária. Em razão da Encarnação, o Verbo Eterno do Pai assumiu a natureza humana de modo radical e irreversível: fez-se um de nós, igual a nós em tudo, exceto no pecado (cf. Hb 4,15). Desse modo, a vitória do homem Jesus é a vitória da humanidade, assim como sua glorificação é a glorificação da humanidade. Ao subir aos céus, Jesus introduziu na intimidade divina a humanidade, outrora ferida pelo pecado e agora recriada pelo sacrifício de amor do Redentor, que faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,5).

A glorificação da natureza humana em Cristo é o sinal realizado no «já» da história daquela glorificação preparada para cada indivíduo humano, em Cristo, na realidade do eschaton, quando veremos Deus tal como Ele é (cf. 1Jo 3,2).

É justamente nesse caminhar para o eschaton que se deve viver o mandato missionário de Jesus: «ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!» (Mt 28,19-20). A Igreja, cuja cabeça é Cristo, se entende missionária desde o início, como algo inerente à sua identidade própria. Por isso, ela é a servidora do Reino, e seguindo os passos de seu divino Mestre, continuará irradiando neste mundo a força do Mistério Pascal até a consumação dos séculos.

A solenidade deste dia deve marcar nossa caminhada de discípulos-missionários, ajudando-nos a assumir nosso compromisso batismal de testemunhar o Cristo Senhor, e preparando nossos corações para receber a graça renovadora da vida e da missão por meio da força que vem do alto: o Espírito da Verdade, o Consolador! «Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu» (At 1,11).

 

Por:
Pe. Felipe Costa Silva
Pároco e Cura da Sé Catedral de Quixadá