O livro dos Atos dos Apóstolos, escrito pelo evangelista Lucas, nos traz o relato de Pentecostes (cf. At 2,1ss), mostrando com isso que essa festa já acontecia no judaísmo. Era assim chamada festa das sete semanas ou festa da colheita, celebrada 50 dias após a páscoa judaica. Era o tempo de ofertar a Deus as primícias do trigo. Ainda conhecida como festa da entrega da Lei no Monte Sinai e da Aliança. Foi, então, durante essa festa que aconteceu a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, a Virgem Maria e outras mulheres (cf At 1,12-14).
Com Jesus, a festa de Pentecostes que significa “quinquagésimo dia”, encontra um novo significado: “Se o Espírito Santo vem sobre a Igreja precisamente no dia em que Israel celebrava a festa da Lei e da aliança, é para indicar que o Espírito Santo é a lei nova, a lei espiritual que sela a nova e eterna aliança em Cristo Jesus. Uma lei escrita já não sobre tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, que são os corações dos homens.”
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que: “Crer no Espírito é, portanto, professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho, ‘adorado e glorificado com o Pai e o Filho’” (§ 685).
Nessa solene celebração a Igreja canta a sequência Veni Sancte Spiritus – em português Vinde, Espírito Santo – que não deve ser omitida da Missa de Pentecostes. O nome “sequência” se refere justamente ao fato de se seguir ao Aleluia, de continuá-lo.
A Liturgia nos faz mergulhar num desses poemas especiais para ocasião dos dias santos e centrais da nossa fé:
Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons.
Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!
No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.
Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.
Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.
Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.
Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons
Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna!
Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!
Portanto, na sequência que cantamos encontramos o Espírito de Deus como fonte de luz e riqueza da alma, cheios de uma alegria confiante louvamos a fonte de toda consolação, mesmo nas mais dolorosas situações que nos advertem. Que quando chegamos na parte – “Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!” – deve sair com mais força como uma verdadeira súplica que brota do coração.
“Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.” – o que é o homem sem essa Luz Divina? Nada podemos sem a sua graça, nada conseguimos fazer sem o seu auxílio. O Espírito de Deus dobra em nós o que ainda é duro ou rígido, ilumina-nos em meio às realidades obscuras e nos conforta com seu calor em meio ao frio.
Ele vem sobre todo o corpo que é a Igreja concedendo seus dons para quem espera e deseja, como um fogo abrasador. Ele vem nos fazer espectadores esperançosos da alegria eterna, enche-nos com sua luz, com essa chama que queima e que jamais se apaga. Movendo nossos corações humildes e simples, como socorro dos mais pobres e necessitados.
Enfim, a palavra ‘Espírito’ traduzida em hebraico ‘Ruah’ significa sopro, ar, vento. Com isso Jesus, quer ao anunciar e prometer a vinda do Espírito Santo, chama-Lhe o ‘Paráclito’, quer dizer: «aquele que é chamado para junto», ad vocatus (Jo 14, 16. 26; 15, 26; 16, 7), o Consolador.
No término deste artigo quero dizer com Santo Irineu (140-202) quando ele diz: “Pois lá onde esta a Igreja ali está também o Espírito Santo; e lá onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda a graça”.
Vinde, Espírito Santo!
Por: Pe. Pablo Nogueira Anselmo