O autêntico discípulo
Como alguém pode se tornar discípulo de Jesus? Algumas passagens do Evangelho são tão desconcertantes que podem deixar o pretendente discípulo desanimado diante das condições exigidas pelo mestre. O Evangelho desse domingo, por exemplo: “Enquanto estavam caminhando, alguém na estrada disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores”. E Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Jesus disse a outro: “Segue-me”. Este respondeu: “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai”. Jesus respondeu: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. Um outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares”. Jesus, porém, respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus”.
São três as condições exigidas para se tornar discípulo de Jesus: não ter ninho; estar vivo; destacar-se do passado.
Não ter ninho como os pássaros. O risco de fazer da própria fé um refúgio é muito grande. Estou tão bem, eu e o meu Jesus, com as minhas três ou quatro certezas, com o meu ritmo, por que desinstalar-me? Atenção! O Senhor está sempre em movimento, não tem lugar nem hora certos para repousar. Temos que ter cuidado para não fazer de Deus uma consolação que nos deixa lerdos, que nos aliena da vida concreta. Este não é o Deus de Jesus Cristo.
Quer ser discípulo de Jesus? Prepare-se para andar, aliás, correr, ou até voar. Quantas vezes os padres se queixam da fadiga de correr para todos os lados, e muitas vezes para atividades religiosas dirigidas a pessoas infladas de um cristianismo sem jamais terem se encontrado com Jesus! Muitos transformaram o cristianismo num “ninho”. O Evangelho nos recorda que a fé é um caminho continuo, é descoberta continua, é encantamento continuo.
A segunda condição é deixar que os mortos sepultem seus mortos. O senhor não precisa de cadáveres, mas de vivos. O Evangelho precisa de homens e mulheres que sejam cheios de vida e que abandonem o lado mortífero e cadavérico. Por isso na Igreja primitiva se vivia o batismo dado aos adultos como um renascimento, como um deixar para trás a morte. “Eu era morto, mas agora vivo; eu era treva, mas agora sou luz no Senhor”. Devemos recuperar este amor pela vida. Na oração Eucarística V, se reza: “A vossa Igreja seja testemunha viva de amor, de justiça e de paz, para que os homens tenham a esperança de um mundo novo”. Seguir Jesus significa viver, não ser cadavéricos. Significa descobrir que a minha vida, os meus deveres de casado ou de consagrado, o meu trabalho e a minha missão não são desgraças das quais tenho que me libertar o quanto antes.
A terceira condição é não olhar para trás. Ninguém que põe a mão no arado e se volta para trás é digno do Reino. O que significa? Conclua você mesmo: cuidado com o passado que “entulha” o presente! Jesus precisa de gente que olha para o futuro. O Senhor não nos quer pregados na miséria do nosso passado, nas fadigas da nossa infância, nas feridas da vida. Qualquer um pode se tornar discípulo, não importa o seu passado nem os seus problemas. Todos temos problemas, mas ninguém é um problema. Isto para mim é “Evangelho”, é ótima noticia.
Pe. Antonio Eronildo de Oliveira
Vigário Geral Diocese de Quixadá