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JUBILEU DIOCESANO – LAUDES SOLENE – 20/08/2021

 

 

 

JUBILEU DIOCESANO LAUDES – 20/08/2021

São Bernardo, abade.

 

MENSAGEM AOS PADRES,

SEMINARISTAS E CONSAGRADOS

            Neste dia em que celebramos o Jubileu de Ouro da nossa Diocese, celebramos também a memória de São Bernardo, abade. A leitura breve das Laudes tirada da Carta aos Hebreus 13,7-9a é muito rica e significativa para todos nós aqui reunidos.

            “Lembrai-vos dos vossos dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus, e, considerando o fim de sua vida, imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje e por toda a eternidade. Não vos deixeis enganar por qualquer espécie de doutrina estranha.”

 (Hb 13,7-9)

            Convido a algumas reflexões: A fé e os tesouros do Reino de Deus são presentes de Deus, mas quase sempre mediados por pessoas e fatos históricos. Nesse tempo e, particularmente neste dia 20 de Agosto que recordamos o nascimento desta Igreja Particular certamente nos vem à mente, fazemos memória e rezamos a Deus por todas as pessoas que, durante estes 50 anos nos marcaram com seus exemplos, estímulos, palavras e contribuições de muitas formas para que hoje estejamos aqui. Isto se deveria fazer todos os dias, mas de modo particular hoje.

            Parece-me que esta dinâmica de acolher e transmitir o que se acolheu é fundamental. Tudo é Dom, tudo é Graça: não somos nós os geradores. São Paulo sabendo desta realidade nos diz: “o que recebestes de graça, dai de graça!”. Acolher, abrir-se a Deus, acolher a sua obra é a atitude de quem percebe claramente a própria imperfeição, o quanto somos inacabados e alimentam o desejo de maior plenitude. Em Maria, Deus faz esta obra e quer fazê-la em nós se houver humildade.

            O texto que proclamamos há pouco e que rezamos com frequência, fala especificamente dos dirigentes. Os que tem a missão de dirigir, conduzir, indicar, apontar. Logo em seguida diz: “que vos pregaram a Palavra de Deus”. Portanto, não é qualquer dirigente e não é qualquer informação. Na linguagem de hoje: o pilar da Palavra, fundamental para um encontro profundo e real com o Cristo Senhor. Deus sempre quis se revelar, manifestar e, o fez definitivamente em seu Filho Jesus Cristo.

            Ultrapassando o nosso esquema de tendencia clerical, podemos afirmar que todo batizado que amadureça sua fé em Cristo é portador e testemunha da palavra que, primeiramente acolhe em si e permite a mudança de direcionamento da sua vida. Jesus falava com autoridade, ou seja, com coerência entre fé e vida; palavras e ações; pelos seus frutos os conhecereis, porque a árvore boa não pode produzir maus frutos e a arvore má produzir bons frutos.

            Reafirmando a tarefa de todo dirigente e como tudo tem fundamento na Palavra de Deus, cito um pequeno trecho da segunda carta de São Paulo a Timóteo: 3,15-17.

            “Desde a infância conheces as Sagradas Letras; elas têm o poder de comunicar-te a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra”. (2Tm 3,15-17)

            A autoridade e eficácia do dirigente depende muito dele próprio estar repleto de Deus e ter sido verdadeiramente misericordiado e preenchido por Deus (Papa Francisco). Caso contrário, seremos como bronze que soa ou címbalo que tine.

            Falando neste preenchimento de Deus, me lembro sempre do Bispo que me ordenou Diácono, Padre e foi cosagrante na ordenação episcopal, Dom Diógenes Silva Matthes. Ele citava São Bernardo, que falava muito de Maria como aquela que era cheia de Deus, e do cristão e do Padre dizia, que somos como uma concha: primeiro deve encher-se para derramar. De fato, Maria cheia de Graça, se apressa a prestar o serviço a sua prima Isabel. Os Apóstolos cheios do Espírito Santo anunciam destemidamente o querigma sem medo de perder a vida.

            O texto que estamos refletindo, além de mencionar o anúncio da Palavra dos dirigentes, fala do testemunho que deram com o fim de suas vidas, muitas vezes seladas com sangue. Não foram pessoas com entusiasmos histéricos, sem conteúdo, não eram ou não são fogo de palha, mas receptáculos de um tesouro que tinham recebido de graça e dispostos a perder tudo pelo que acreditavam. São Paulo afirmava: “Ai de mim se não evangelizar, para mim viver é Cristo, e morrer é lucro”.

            Continuando o texto: “Imitai-lhes a fé em Cristo”: talvez tenhamos todos que responder à pergunta que Jesus faz aos seus discípulos depois de ter ouvido o que o povo pensava dele: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Quem é Cristo, sinceramente para mim? Pela graça dele posso e quero carregar com ele a Cruz? Talvez sejam demasiados os que querem seguir um Cristo sem cruz, sem renúncias. São Paulo é categórico quando diz: “Eu anuncio Cristo, e Cristo crucificado”.

            Todos nós pelo escândalo da Cruz, podemos não anunciar e testemunhar o Evangelho de Cristo, mas inventar nossas saídas, nossas ideologias. Podemos nos deixar enganar por qualquer doutrina estranha, como diz o final do texto que nos propomos meditar um pouco.

            Amém!

+Angelo Pignoli

Bispo Diocesano de Quixadá