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Uma Igreja de Pedras Vivas – Artigo

EonildoUma Igreja de Pedras Vivas 

É no mínimo estranho que Jesus tenha escolhido Cesareia de Filipe, uma cidade pagã do norte, praticamente às margens de Israel, para pôr aos seus discípulos uma pergunta crucial: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem”?

Até parece que Jesus já soubesse o resultado da sondagem, que, isto é, as pessoas não reconhecem nEle o Filho do Homem. Aos nossos olhos pode parecer um golpe. Com tudo aquilo que já havia feito (milagres, curas, exorcismos, uma pregação incomparável) já deveriam ter entendido que Ele não era um homem qualquer. Mas o que realmente interessa a Jesus não é nem tanto a opinião do povo, quanto a dos seus discípulos: “vós, quem dizeis que eu sou”?

A profissão de fé dos discípulos: Eis o que interessa verdadeiramente a Jesus. O espaço no qual podia ecoar uma declaração de fé assim não devia ser aquele do senso comum, que hoje escuta e amanhã dá as costas. Esta profissão de fé a pode fazer somente os discípulos. Este é o espaço do verdadeiro crente: aquele que tem disposição para escutar e entender, não com as próprias forças, mas com a ajuda do Mestre e do Pai que se revela aos pequenos.

A fé da Igreja: No Evangelho de Mateus (11,25-25) encontramos esta oração de Jesus: “Eu te louvo Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes aos pequenos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado”. Com esta oração temos a confirmação de um fato concreto: as palavras que Simão, filho de Jonas pronunciou, ele as pronunciou com a sua língua, com uma profunda e sentida convicção, mas estas não encontram nele mesmo a sua fonte, porque “nem a carne, nem o sangue te revelaram isso, mas o meu Pai que está nos céus”. Estas eram palavras de fé.

A fé não nasce da fragilidade humana. Este é o sentido da expressão “nem carne e nem sangue”. A fé é um dom do Pai. Com as próprias forças podemos só constatar ou dizer algo sobre Jesus. Mas si é Igreja somente quando fazemos parte daquela comunidade na qual o Pai se revela e onde com Pedro se pode dizer a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente”. Este povo que se reconhece “Igreja” não se define a partir de um território, de uma raça ou de uma ideologia, mas unicamente a partir da fé em Jesus Cristo.

Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. O mistério de Cristo e o mistério da Igreja são assim tão ligados que não se pode falar de Jesus sem falar da Igreja e vice-versa. Em Mateus, portanto, o discurso sobre a Igreja é ligado à função de Pedro. A este ponto podemos perguntar: como Pedro se torna pedra, fundamento do edifício construído por Jesus, uma vez que a Igreja não é obra do homem, mas de Deus? Pois bem, não o é por causa da fragilidade humana que, certamente, não pode oferecer garantias, mas o é na confissão da fé que se manifesta como dom do Pai. Jesus não fala de uma pedra qualquer, mas da rocha da fé sobre a qual se apoia qualquer edifício, sem a qual seria uma casa sobre a areia destinada à ruina. A Pedro, portanto, é confiada uma missão que garante a solidez e a segurança da Igreja.

Jesus constrói a Igreja. Mas quem nos garante que Pedro nesta missão não agirá segundo a fragilidade humana? A promessa fiel de Jesus. “Eu te darei as chaves do reino do céu. Tudo o que tu ligares na terra será ligado no céu e tudo o que desligares na terra será desligado no céu”. A nossa segurança está também nas palavras de Jesus: “as potencias do inferno nunca prevalecerão sobre ela” Jesus está sempre agindo como construtor da Igreja, como continuador do anuncio do Reino, ao qual  visivelmente se junta Pedro a quem são confiadas as chaves do Reino, isto é, o poder de decisão na missão do anuncio que é de toda a Igreja.

O grande edifício da Igreja. Pedro é, portanto, o primeiro dos discípulos, o primeiro daquele pequeno grupo de pessoas que investiram toda a vida no seguimento de Jesus de Nazaré. Deste grupo Pedro é a pedra que dá solidez a todas as outras pedras do grande edifício que é a Igreja: pedras vivas que ainda hoje escolhem seguir o Mestre, custe o que custar.

Pe. Antonio Eronildo de Oliveira

Vigário Geral Diocese de Quixadá