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As Chagas que curam – Artigo

As Chagas que curam Jesus Misericordisoso

O segundo Domingo de Páscoa tem recebido um particular interesse litúrgico e de espiritualidade devocional desde que o papa São João Paulo II o instituiu como Festa da Divina Misericórdia.

O fundamento dessa festa é, com certeza, a passagem do Evangelho proclamado na Liturgia da Palavra, em que o Senhor ressuscitado oferece a Tomé a oportunidade de tocar o seu corpo marcado pelas feridas dos cravos que o pregaram na cruz. O crucificado, agora ressuscitado se mostra rico em misericórdia abrindo o caminho da fé àquele que ainda precisa recorrer aos sentidos para poder professar: “meu Senhor e meu Deus!”.

Por que Tomé precisa justamente por a mão nas feridas de Jesus para crer que ele realmente ressuscitou da morte? Por que não pediu qualquer outro sinal, uma vez que ele já conhecia o poder extraordinário de Jesus durante a sua convivência com o rabi que seduzia com palavras encantadoras e gestos admiráveis?

Ele precisa ver e tocar as feridas de Jesus, porque foram próprio estas que marcaram profundamente a memória e o coração do discípulo desiludido. É de se imaginar que as feridas de Jesus feriram também a frágil emotividade de Tomé, e muito mais ainda a humana esperança dele e de qualquer outro que ainda não consegue distinguir direito o Reino de Jesus dos simples bem-estar terreno.

Já escrevera o profeta Isaias: Ele tomou sobre sinossos pecados e carregou nossas dores; nós, porém, o julgávamos castigado e ferido por Deus e humilhado. Ferido por nossos pecados, esmagado por nossos crimes; o castigo que nos valeua paz caiu sobre ele; por suas chagas fomos curados. (Is 53,4-6).

Nos dias de hoje é urgente fazer essa passagem da necessidade do tocar para crer ao crer para tocar. É o papa Francisco que nos exorta a sairmos para aplicar o bálsamo da misericórdia sobre as feridas de Cristo abertas na humanidade ferida.

Assim como Tomé teve a sua fé curada a partir do momento que tocou as feridas de Jesus, também nós quando tocarmos com a mão a realidade da dor física e moral dos outros seremos curados da nossa fé intimista e romântica demais, que tantas vezes impõe a Deus os nossos gostos ao invés de submetermos à Sua vontade.

Muito tem se testemunhado que a mais marcante experiência de se sentir amado por Deus acontece quando nem mesmo nós nos aceitamos mais. Eis então uma grande oportunidade de nos deixar curar pelas chagas cheias de amor do crucificado e ressuscitado.

Pe. Antonio Eronildo de Oliveira

Vigário Geral da Diocese de quixadá